Amor (im)Possível aos amantes de corpo, alma e memórias
“A vida prejudica a expressão da vida. Se eu vivesse um grande amor nunca o poderia contar” F Pessoa, Livro do Desassossego
“Who then devised the torment? Love
Love is the unfamiliar Name
Behind the hands that wove
The intorelable shirt of flame”
TS Elliot, excerto de Quatro quartetos
O amor é uma impossibilidade da natureza ou uma possibilidade do artifício Apenas filosoficamente plausível, na abstração. Somente em sua negação é pleno. Enquanto idealizado, subjetivamente inteiro Em sua posse irreal, imagem de pura riqueza Ilusão de efêmera completude. Diverso em prosa e verso, reconhece e arrebata Palpitante o instinto pessoal, passional na alma Ríspido, se farta do sentido sensual Insípido, se passa aflito enquanto amadurece e acalma Transborda em alívio deleite a volição dos corpos Retoma, em exílio no leito, a possessão visceral, ocos Límpido, desnudo e vazio, mas ainda ávido desforro Precisa evolução natural, obedece ao desejo de Volúpia. À renúncia de si mesmo, involução sem consolo Torna-se mera marionete, mero despojo A paixão devora, Caribdis abissal faminta, o hospedeiro Alimenta-se, comensal, do seu desejo Nau despedaçada na tormenta. Nua, naufragada, fome que não se contenta Consome sua razão, até restar, devoluto, nada Ou, se a sorte sorrir, o amor Tal qual uma bela devadássi Dança devota em sua missão religiosa, dos deuses um favor Limpa, nua e preenchida, mas ainda que se calasse Sem igual, desnudada aflição, silenciosa em seus passos incautos Envolvendo no ritmo o custo do destino, seu arpão Sacrifício cruento, eterno arauto da balança entre permanecer e não mais existir Sinuosa sutileza, ficção insidiosa é o amor Restos esfarrapados da paixão consumada Que deixa entrever entre os fiapos A alma devorada, digerida, absorvida, transmutada Uma possessão impossível Pois não igualmente correspondida Fantoche que claudica no espetáculo da vida, coadjuvante Não amar é não sofrer, E viver intacto, de facto não vivida.