Se a Esfinge, porventura, me perguntar em tom de desafio — sempre um enigma — “qual será o seu Fim?”, poderei responder-lhe: “Está claro e definido, que do Fim só tenho controle quando assumo TS Elliot”. Por este, o Fim é o lugar de onde partimos. Uma volta eterna que não é regressiva, mas transformadora.
Para mim, tenho meu Fim quando assumo minha visão daquilo que pretendo querer — ou finjo pretender para consolo próprio. Um propósito. Mais que uma finalidade.
Sem este Fim, minhas pálpebras não se abririam pela manhã,
e passaria as horas do dia como cego,
sem querer ou fingir.
Prefiro este ao outro, por questão de sobrevivência, preservação e auto-indulgência:
o fim do lugar para onde terminamos; este, se acaso soubesse do meu destino, a finitude, reduziria a pó minha caminhada
e drenaria minhas volições.
Pois o ser humano teme e ignora, por vontade máxima, o seu término —
não suportando sua própria finitude,
até que seja tarde demais. A vida seria insuportável se tomássemos consciência dela, escreve o poeta Fernando Pessoa.
Quem sabe o misterioso instante de revelação necessária e suficiente para o ponto de virada existencial, conversão ou mudança seminal passe por ele. Um ponto de hiperrealidade (vide, Leia antes que se apague) agora não externo, apenas empático e reflexivo, mas interno e absolutamente devastador.
Sobre ruínas e escombros surgiria um novo ser, edificado.
O Fim de onde partimos reconforta,
porque aponta para o futuro incerto e imaginativo,
mas ainda presente; por ele, vivemos o agora.
O fim para onde vamos leva ao esquecimento —
e ninguém suporta o não existir, alicerce das religiões e da primordial ciência, também chamada filosofia. Embora com resultados diferentes, pois conforme Bernardo Soares, um dos heterônimos de Pessoa, “o homem perfeito do pagão era a perfeição do homem que há; o homem perfeito do cristão a perfeição do homem que não há; o homem perfeito do budista a perfeição de não haver homem.”
Fim: palavra dúbia,
encerra em si mesma dois opostos —
a menor contradição nominal possível, partícula paradoxal.
Fim, oposto do princípio.
Fim, origem do propósito. Minha força-motriz.
Quando, enfim, chegar o meu,
brincarei de poeta
e, magicamente, trocarei um pelo outro.